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Especial: Ciranda, um olhar com a infância de povos e comunidades tradicionais

  • 21-01-2025

Era dezembro de 2023, quando dezenas de mulheres organizadas no Movimento de Marisqueiras de Sergipe (MMS), expuseram, durante o XII Encontro do PEAC, o manifesto a favor da implementação das Cirandas Infantis nos espaços do Programa. Naquele momento, muitas dessas mulheres, que também são mães, relataram suas adversidades para participar de compromissos que ocorriam fora de suas comunidades ou que implicavam em viagens. O grande problema estava, portanto, no fato dessas mulheres não terem lugares adequados para deixar suas crianças enquanto participavam das atividades do Movimento e do Programa e isto, por consequência, impedia ou dificultava a participação dessas mulheres.      


Crianças, equipe de Pesquisadores e equipe de Cirandeiras participam de Fórum de Base | Pedro Bomba 

Ao longo de 2024, o grupo de pesquisadoras do PEAC, através do Observatório Popular das Violências Pela Vida das Mulheres de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe (OPOPVida/UFS), se dedicou a traçar estratégias para a implementação das Cirandas Infantis nos espaços do Programa, culminando na realização da primeira Ciranda em grandes eventos durante o Encontro das Marisqueiras de Sergipe (EMARIS), realizado em outubro deste ano. Durante o encontro, as crianças e jovens de povos e comunidades tradicionais participaram de diferentes jogos, brincadeiras e atividades ligadas às práticas da mariscagem e da pesca artesanal. O trabalho desenvolvido, resultou em uma assembleia infantil que reuniu os diferentes desejos de participação dessas crianças.


Lorena Santos, pesquisadora do PEAC e cirandeira lendo histórias para as crianças | Pedro Bomba

Agora, neste ano, a Ciranda Infantil tomará novas proporções. Além da implementação da Ciranda nos grandes encontros do Programa, as pesquisadoras do PEAC têm se dedicado em garantir a implementação da Ciranda em espaços formativos nas comunidades. Foi o que aconteceu na última sexta, 17, no Fórum de Base da região Centro, realizado no povoado Lauro Rocha, em São Cristóvão. Segundo Beatriz Moreira, pesquisadora do PEAC, a proposta das Cirandas Infantis em Fóruns de Base surge “para dar vazão a conquista de uma luta das mulheres marisqueiras, e fazer isso nos povoados com crianças, mães e pais da própria comunidade, é a chave desse trabalho”, explica.


Beatriz Moreira, pesquisadora do PEAC e cirandeira | Pedro Bomba

Embora a Ciranda Infantil realizada no EMARIS em outubro de 2024 seja um marco na luta pela participação de crianças e jovens em atividades do PEAC, foi em março de 2023 que a primeira experiência de Ciranda ocorreu na comunidade do Barrosinho, em Aracaju, impulsionada, na época, pela pesquisadora, Mony Grazielle.

Os primeiros passos dessa experiência resultaram em reflexões profundas sobre a participação das crianças nos espaços de formação e tomada de decisão. “A ciranda não é apenas um lugar onde as crianças ficam enquanto suas mães e pais participam das reuniões e formações. A ciranda é um espaço de participação dessas crianças e o lugar onde elas podem apresentar suas demandas, porque as crianças também são impactadas com a degradação do meio ambiente e com a perda de seus territórios”, explica Mony, integrante da Associação Ciranda Criativa (ACC).


Mony Grazielle ao centro (de óculos) e a equipe da Associação Ciranda Criativa com as crianças de Lauro Rocha | Pedro Bomba

Formação de cirandeiras e o trabalho de base

Uma das novidades das cirandas que está ocorrendo durante os Fóruns de Base preparatórios para o XII Encontro do PEAC (EPEAC) – previsto entre os dias 30 de janeiro a 02 de fevereiro – é o processo formativo de novas cirandeiras que trabalharão com a equipe de pesquisadoras e a Associação Ciranda Criativa durante o encontro. Essa formação visa capacitar mulheres e homens de comunidades tradicionais para o trabalho com as crianças e jovens. Segundo Beatriz Moreira, a ideia de tornar as cirandas dos fóruns de base em espaços formativos de cirandeiras é uma forma de preparação para a Ciranda Infantil do EPEAC, com previsão de participação de 50 crianças. “Nós criamos uma confluência entre a necessidade de formação de cirandeiras e a realização dos fóruns de base que vão culminar no Encontro. A ideia foi possibilitar a formação dessas cirandeiras para que elas já estejam no EPEAC construindo e formando a Ciranda. Essas mulheres são pessoas dos territórios que trabalharão com as crianças dos próprios territórios, isso é muito importante porque tornam essas mulheres referências em suas comunidades”, explica.


Thais Isidório, moradora da Caueira e uma das participantes da formação de cirandeiras | Pedro Bomba

Para Thais Isidório, moradora do povoado Caueira em Estância e uma das participantes da formação de cirandeira ocorrida no Fórum de Base da região Centro na última sexta, 17, a ciranda é uma oportunidade para garantir que as mães também participem das atividades. “A gente que é mãe, a gente perde muita oportunidade por não ter onde deixar nossas crianças. Às vezes a gente leva as crianças para esses espaços, mas elas precisam brincar, a criança tem muita energia, mas quando a gente está sozinha nesses espaços, a gente fica controlando a criança para ela não fazer barulho, para não atrapalhar as discussões. Então é muito importante ter a ciranda porque enquanto as mães e os pais estão na reunião, as crianças estão à vontade, brincando, aprendendo e as mães ficam tranquilas porque sabe que tem profissionais cuidando de seus filhos”, explica.

Já para Marcelo Moura, vice-presidente da Associação de Lauro Rocha e conselheiro do Conselho Gestor do PEAC, a presença das crianças em espaços formativos alimenta novas perspectivas. “A ciranda só agrega ainda mais as atividades para nós e para as mães que estiveram aqui hoje com seus filhos. Eu desejo que no amanhã seja uma criança dessas que esteja à frente da comunidade, que ela possa hoje aprender melhor sobre seu território de vida, sobre as políticas de melhoria comunitária e que lá na frente não seja mais Marcelo, mas sim uma criança dessas. Então fico muito feliz de ver essas crianças brincando, se divertindo e aprendendo. Nos traz esperança”, afirma.


Crianças brincam em roda com cirandeiras | Pedro Bomba

A Ciranda Infantil tem ganhado destaque nas ações do PEAC de tal modo que nos últimos meses foi inaugurado o GT de Infâncias, Grupo de Trabalho do Conselho Gestor responsável por formular os espaços políticos-pedagógicos das cirandas. O GT em parceria com a Comissão de Ciranda Infantil, o OPOPVida/UFS e a Associação Ciranda Criativa estarão responsáveis pela execução da Ciranda durante o XII EPEAC, com previsão para receber 50 crianças de comunidades tradicionais.


Crianças brincam e se divertem em Fórum de Base do PEAC | Pedro Bomba

Segundo Mony Grazielle, autora da dissertação Espaço de ciranda infantil: uma proposta para o programa de educação ambiental com comunidades costeiras - PEAC/SE, as cirandas estão sendo planejadas “como um ambiente lúdico que vai favorecer a construção e a troca de saberes intergeracionais, através de espaços brincantes, acolhedores, de integração e protagonismo das crianças. O mais importante é que as cirandas se tornem recorrentes no PEAC, onde houver uma reunião, uma roda de conversa, um espaço de formação, deve haver a partir de agora uma ciranda infantil, porque as próprias crianças entendem isso, elas dizem ‘olha, não dá para minha mãe ir sem mim”, explica.

Encontro do PEAC

O XIII Encontro do PEAC (EPEAC) com data marcada entre os dias 30 de janeiro a 02 de fevereiro deste ano, reunirá cerca de 250 pescadores e marisqueiras do estado de Sergipe para discutir estratégias de defesa de seus territórios.





 

 

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.