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I Feira das Marisqueiras promove o reconhecimento do trabalho da mariscagem em Sergipe

Foto: Iris Brito Lopes/PEAC

O evento contou com comercialização de mariscos, oficinas, roda de conversa e apresentações culturais.

Apreciar mariscos preparados ao vivo pelas mãos de quem pegou da lama da maré e adquirir outras delícias feitas por mulheres de comunidades tradicionais foi uma oportunidade para quem visitou a primeira Feira “Da Cata ao Prato”, realizada pelo Movimento das Marisqueiras de Sergipe nos dias 04 e 05 de agosto no Museu da Gente Sergipana, em Aracaju.  

A Feira reuniu de maneira inédita marisqueiras das três regiões do litoral sergipano para comercializar produtos, evidenciar a cultura da mariscagem e debater sobre o trabalho das rainhas dos mangues, rios e marés. “Esta feira tem que continuar acontecendo porque são produtos únicos que não encontramos em nenhum outro lugar”, opinou a turismóloga e guia de turismo Maria José.

Para discutir formas de garantir a comercialização e a valorização do trabalho das mulheres marisqueiras foi realizada a roda de conversa “Cultura alimentar da mariscagem e políticas públicas”. “Além das políticas é preciso fortalecer o trabalho de base para as mulheres se organizarem e abrirem canais de comercialização”, disse Amanda Moura, integrante da Rede Sergipana de Agroecologia (Resea).

“Salvaguardar a vida das mulheres marisqueiras para que elas permaneçam em seus territórios contribuindo para a busca do equilíbrio do planeta” é um desafio de todos nós, convocou.

CULTURA DA MARISCAGEM

Dona Helena, marisqueira de Rua da Palha, em Santa Luzia do Itanhy, conta que começou a pegar e quebrar aratu com sua mãe aos dez anos. “Íamos eu e ela pro mangue, ela ia me ensinando, e quando chegava em casa a gente quebrava juntas”. Foi essa prática que ela demonstrou na oficina que dá nome ao evento “Da cata ao prato”, apresentando com outras mulheres todas as etapas de preparo do Aratu na palha e da moqueca de massunim e camarão com mamão verde.  

Nilza Maria também aprendeu a pescar com sua mãe, marisqueira que aos 84 anos ainda vai para a maré no povoado em Areia Branca, em Aracaju. “Foi uma felicidade muito grande trazer meu bazar, meu bobó de camarão e bolo de macaxeira. E mais ainda poder trazer minhas irmãs pescadoras, minha mãe - a guerreira maior-, e meus sobrinhos, que participaram das oficinas [Brincando com a maré] com as crianças”. 

Mais do que um ambiente de comercialização, a feira “Da Cata ao Prato” foi uma oportunidade de conhecer as histórias e valorizar as mulheres que, geração a geração,  mantém viva a cultura da mariscagem mesmo diante de ameaças aos territórios de vida, como o cercamento das águas, a especulação imobiliária e a criação de viveiros.

"Estão dando camarão de viveiro para as crianças comerem na escola. Isso é saudável? Eu tenho coragem de mergulhar no rio pra pegar peixe debaixo d’água, mas dentro de um viveiro, não, porque tem veneno!” contou a marisqueira Crislane de Carapitanga. “Saudáveis são os mariscos que as marisqueiras pegam!”, enfatizou.

EM AÇÃO

Nas bancas da feira, nos palcos, nas telas de cinema… Lá estão os trabalhos das Marisqueiras de Sergipe. Elas emocionaram o público com a apresentação teatral “Cerca nas águas” durante a abertura do evento, na sexta-feira à noite, e repetiram a encenação no sábado para atender à alta demanda.

Ainda na sexta aconteceu a exibição dos filmes “Carta às Marisqueiras” e “Minha amiga Gilza”, curta-metragem dirigido por Pedro Bomba sobre a relação de amizade das marisqueiras Nice Dias e Gilza Maria a partir das lutas em seus territórios.

Já no sábado as apresentações artísticas ficaram por conta do grupo afro cultural Batucada do Improviso do Quilombo Porto D’Areia e da banda Donali.

Marisqueira e participante do filme “Minha amiga Gilza”, Cristiane Dias celebra a visibilidade de suas histórias. “Essa feira veio mostrar a força que as mulheres marisqueiras têm. É uma maneira de mostrar que estamos conseguindo alcançar brilhantemente o reconhecimento que merecemos”.

Veja aqui as fotos da I Feira das Marisqueiras de Sergipe: https://photos.app.goo.gl/13WRT5FSbxDhQGzX7.

A realização do PEAC é uma medida de mitigação exigida pelo licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama.