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Entre os dias 23 e 26 de março, o Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) reuniu cerca de 90 lideranças comunitárias de 95 comunidades costeiras localizadas nos estados de Sergipe e norte da Bahia para a realização dos Pré-Encontros para o X Encontro do PEAC (EPEAC), a ser realizado entre os dias 5 e 8 de abril em Aracaju (SE). Divididos por regiões – Norte, Sul e Centro -, os cursos constituíram-se enquanto espaços de formação política e contou com a participação de marisqueiras, pescadores artesanais, extrativistas, artesãos e pequenos agricultores familiares.
Participam dos pré-encontros para o EPEAC os conselheiros e as conselheiras do Conselho Gestor do PEAC e seus respectivos suplentes, bem como os delegados e as delegadas eleitas através de reuniões em cada uma das comunidades da área de abrangência do Programa.
Pré-Encontros Regionais
O primeiro pré-encontro foi realizado na sexta, 23, no Centro Comunitário do Povoado Tigre, em Pacatuba (SE), aglutinando a região Norte. Já no sábado, 24, foi a vez do curso da Região Sul, no Centro Comunitário do Povoado Cachoeira, município de Jandaíra (BA) e, na segunda, 26, os(as) representantes da Região Centro se reuniram na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em São Cristóvão (SE).
Exibição do filme “Nanã” foi o momento mais emocionante dos cursos
A programação dos pré-encontros foi norteada pela troca de conhecimentos entre os participantes de diferentes comunidades e pelo aprofundamento do debate sobre os impactos socioambientais de grandes empreendimentos e as estratégias de atuação dos povos tradicionais em defesa de seus territórios, a partir da exibição do filme “Nanã”, um curta metragem do pernambucano Rafael Amorim. O filme retrata a luta da população da região metropolitana do Recife contra a perda de suas terras e de suas casas com a implantação do Complexo Industrial Portuário de Suape.
“Quando eu vi esse filme meu chão caiu, porque é revoltante. Eu vivi algo muito parecido. Eu morava com minha família na beira do rio, muitos com barracos de palha e outros de taipa. Minha mãe era marisqueira e meu pai pescador. Era com a pesca que a gente se sustentava. Um dia a gente recebeu ordens para deixar aquele local porque ia ser construído um empreendimento. Então, se a gente não saísse dali a gente seria agredido. É por isso que é revoltante”, compartilhou Fátima de Jesus, representante do município de Indiaroba (SE).
Socialização dos conflitos e formas de enfrentamento
O uso de imagens como ponto de partida para o acionamento das memórias coletivas também foi potencializado pela metodologia “Varal de Fotos”. Pregadas em um barbante estendido ao longo do espaço de formação, as imagens fragmentadas da memória de ações coletivas e de movimentos sociais despertaram nos participantes um rico debate sobre estratégias de resistência na defesa de seu território e de seu povo.
A marisqueira Gilza Maria, delegada eleita pela comunidade do bairro Industrial, em Aracaju (SE), se emocionou ao relembrar os momentos de formação do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), simbolizados nas imagens. “Essas fotos das marisqueiras em ação me lembra os dias em que saíamos mobilizando as comunidades, convocando a mulherada para formar o Movimento das Marisqueiras. No começo, poucas queriam ir, mas nosso poder de mobilização foi tão grande que logo apareciam várias mulheres para as reuniões e a força coletiva logo tomava conta dos espaços”, destacou Gilza Maria.
Varal de fotos evoca a memória das lutas e das conquistas dos povos e comunidades tradicionais
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.