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Se alguém duvida de que a defesa dos territórios dos povos e comunidades deve ser feita a partir da construção de diferentes cores, etnias, nações, ideias e gêneros, a conversa sobre ‘Territórios de vida e Cartografia social’, realizada na reunião da 5ª Gestão do Conselho Gestor do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC), mostrou que não tem como separar as diferentes culturas e particularidades de cada região de Sergipe da luta por identidade e espaços de vida.
O encontro, que aconteceu nos dias 6 e 7 de julho, em Aracaju, foi iniciado com a exibição do vídeo-depoimento sobre o II Encontro Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e teve a participação de representantes de diversos municípios sergipanos. Para Patrícia Santos, de Barra dos Coqueiros, o documentário evidenciou que a luta central dos povos originários está ligada com a afirmação de seus territórios. “Precisamos ter os nossos territórios, onde são guardados nossos saberes e conhecimentos”, falou Patrícia.
Patrícia Santos falou sobre a realidade de sua comunidade, em Barra dos Coqueiros
Em relação à afirmação de identidade, Patrícia reforçou a ideia de que as comunidades necessitam fortalecer a noção de permanência territorial e de autoconhecimento. “Temos que nos reforçar para falarmos quem nós somos. Muitas vezes colocam para nós que somos minorias e por sermos minorias temos que ficar à margem para não garantir os direitos que devem assegurados aos povos e comunidades tradicionais”, destacou Patrícia, que se autodeclara negra e catadora de mangaba.
A professora do Núcleo de Pesquisa e Produção de Conhecimentos do PEAC, Mercedes Sola, frisou que os modelos de desenvolvimento não respeitam as tradições e culturas locais. “O tipo de ser e de fazer as coisas não referenda o conhecimento oral das comunidades, pois o hegemônico é escrito. Este é o modelo desenvolvimento dos grandes projetos”, abordou Mercedes.
marisqueira Geonísia Vieira, do povoado Muculanduba, em Estância, relacionou esses grandes projetos a privatização das águas. “Os grandes empreendimentos vêm cercando os rios nos territórios pesqueiros. Eles colocam aqueles arames, mesmo sabendo que eles diluem na água. Colocam capatazes empatando as passagens dos moradores”, revelou a marisqueira.
Segundo o professor Wellington Bomfim, as comunidades precisam saber de seus direitos e o que está no ponto politico e legal. “Quanto à questão quilombola, vários direitos não eram regulamentados e passaram a ser. Buscar a regulamentação é uma ação que pode ser feita para se ter direito ao território, mas como isso vai acontecer? Como vai ser elaborado e regulado? Porque legalmente algumas comunidades tradicionais já possuem os direitos”, pontuou o professor.
Professor Wellington Bomfim abordou questões relacionadas aos direitos dos povos e comunidades tradicionais
Em seguida, os representantes das regiões centro, sul e norte se dividiram em grupos e através dos mapas construídos no último encontro do PEAC, em abril de 2018, elencaram as potencialidades de cada território, produzindo uma cartografia social das comunidades fincada nas necessidades e demandas dos povos e comunidades tradicionais.
Feira Cultural
Feira contou com participação de grupos culturais de Brejo Grande
No sábado (7), os participantes organizaram a II Feira Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais, no Casco Acústico Tamar, Oceanário de Aracaju. O evento foi aberto ao público e teve a apresentação dos grupos: Maracatu Raízes do Quilombo Brejão dos Negros, Grupo Dança Axé África, Erick Souza e Grupo Afro Cultural Batuque e Dança Aê.
Com a finalidade de potencializar a cultura, o artesanato e a culinária dos povos e comunidades tradicionais, a feira vem se consagrando como um espaço de fortalecimento das riquezas culturais resistentes de Sergipe.
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.