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“Consciência e cultura negra” – este foi o tema que norteou a Feira Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais, no último sábado, dia 10 de novembro, no Oceanário de Aracaju. Mais do que referenciar o povo negro e suas lutas, o Conselho fez da Feira um quilombo pulsante e encantador.
Em um país onde o povo negro foi escravizado, onde por muitos anos houve a proibição do negro de entrar na escola, onde existiu a criminalização da capoeira, é mais que necessário falar da cultura e resistência negra. Por isso, mais do apresentar as belezas e músicas afro, a Feira trouxe também a reflexão e as várias visões do que é ser negro, por meio de intervenções discursivas, vídeos e poesias.
A música ficou por conta da Associação de Capoeira Anabel, de Barra dos Coqueiros, e das bandas Afoxé Di Preto e Anne Carol e os AfroDrums. Além disso, os conselheiros organizaram o Desfile da Cultura Negra, valorizando o artesanato e as biojoias produzidos nas comunidades e que estavam expostas para serem vendidas na Feira.
A reunião da 5ª Gestão do Conselho Gestor do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) que aconteceu no sábado a tarde foi centrada na formação sobre “Cultura e Consciência Negra: Formas de r-Existência e o Papel na Sociedade”. Divididos nos círculos de cultura, as conselheiras e conselheiros conversaram sobre identidade, cultura, empoderamento, educação e resistências negras.
Para contribuir com os diálogos, foram convidadas/os: Taíres Santos, do Coletivo Quilombo, Thaty Menezes, da UNEGRO, Tatiane Costa (Negra Luz) afroempreendedora, Maria Izaltina, militante quilombola, Poliana Deusa, artesã e Benilton Barbosa, contra-mestre de capoeira.
Thaty Menezes abordou o empoderamento negro por meio do cabelo natural. “É uma busca para nossa ancestralidade e nossa cultura. Tem que ser por amor, porque não adianta só mudar a estética e o externo, mas sim mudar por dentro. O cabelo black sofre preconceito todos os dias. Dizem que está na moda, mas acredito que ele representa algo muito maior para nós negros”, reflete.
Izaltina afirmou que muita gente, mesmo sendo negro, ainda não se assume. “Sempre tem que critica que meu cabelo é ‘assim’, ruim. A minha mãe não se assumia enquanto negra e quilombola. Essa negação é porque a gente já sofreu tanto e ninguém quer ser coisa ruim. A maioria de nós fica nos inspirando no branco, por isso cabelo liso é ‘lindo’. Precisamos nos reconhecer e nos amar”, completa.
Intercâmbio
Com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre a realidade de outros territórios quilombolas, o Quipea (Quilombos no Projeto de Educação Ambiental), do Rio de Janeiro, realizou um intercâmbio no território quilombola Brejão dos Negros, em Brejo Grande. Na oportunidade, os participantes do intercâmbio prestigiaram a Feira Cultural e realizaram uma roda de apresentação com os conselheiros do PEAC.
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.