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Mapeamento produtivo das marisqueiras de Estância revela quintais férteis e diversidade de mariscos

  • 14-08-2025
Pedro Bomba

Mais de cinquenta alimentos produzidos em quintais, além de produtos beneficiados e uma diversidade de mariscos, foram esses alguns dos resultados preliminares da oficina de mapeamento produtivo realizada na sexta, 1 de agosto, no povoado Ouricuri, em Estância.

Reunindo marisqueiras das comunidades de Muculanduba, Porto do Mato, Ribuleirinhas e Ouricuri, o mapeamento teve como objetivo o inventário desses alimentos e produtos, observando as práticas de produção, os desafios e riscos, além da presença de ervas e plantas medicinais.

Embora muitas marisqueiras produzam alimentos em suas casas, a ideia de quintal produtivo estava ligada, para muitas delas, à comercialização desses alimentos. Segundo Cristiane Dias, coordenadora do Movimento de Marisqueiras de Sergipe (MMS) e moradora do povoado Muculanduba, o mapeamento contribuiu para o entendimento sobre a diversidade de alimentos produzidos. “Hoje a gente compreendeu que temos muitos quintais produtivos porque às vezes a gente achava que um quintal para ser considerado produtivo precisava necessariamente comercializar os produtos. Nós temos uma grande diversidade de frutas, verduras, ervas”, afirma.


Marisqueiras de Estância realizam mapeamento produtivo | Foto: Pedro Bomba 

Uma das práticas realizadas pelo Movimento de Marisqueiras de Sergipe (MMS) durante a oficina de mapeamento é a produção de um cardápio de almoço oriundo dos quintais produtivos e das áreas de manguezais das marisqueiras. Para Iraci Alcântara, marisqueira e moradora do povoado Ouricuri e uma das pessoas responsáveis pela produção do almoço, essa prática valoriza o trabalho da mariscagem e das mulheres. “A comida que produzimos hoje é uma comida saudável, vinda do nosso território e do nosso manguezal, isso é muito importante porque valoriza nosso trabalho e as mulheres marisqueiras. Hoje fizemos moqueca de sururu e ostra, além da galinha de capoeira, e tudo isso veio do nosso território”, explica.


Iraci Alcântara (de azul) e Lindinalva Santos, marisqueiras responsáveis pela produção do almoço | Foto: Pedro Bomba 

Apesar da diversidade de produtos e mariscos nos territórios, as marisqueiras identificaram a presença de ameaças a essas áreas. O cercamento dos manguezais, o desmatamento para construção de condomínios e resorts, a carcinicultura, a dificuldade de comercialização e a inexistência de políticas públicas voltadas às marisqueiras foram alguns dos problemas apontados. Para Augusta Alves, do povoado Ribuleirinha, o mapeamento permite conhecer a produção de outras comunidades. “Hoje nós pudemos conhecer também a realidade de outros povoados do município e isso nos permite aprimorar a produção e ajudar uma à outra. O que percebemos é que os desafios e ameaças aos territórios são os mesmos”, afirma.

Realizado pelas pesquisadoras da Frente de Assessoria Política e Pedagógica às Marisqueiras de Sergipe em parceria com o MMS, o mapeamento produtivo visa estabelecer um panorama da produção de alimentos nas comunidades, detalhando os produtos que são vendidos, doados e trocados, além de elencar as ameaças a essa produção. Segundo a pesquisadora de Ciências Humanas e Sociais, Karol Coelho, o mapeamento produtivo tem gerado reflexões importantes sobre a identidade e a valorização do trabalho das marisqueiras. “A pesquisa e o mapeamento têm destacado a riqueza da biodiversidade presente nestes territórios e o conhecimento tradicional para o uso e preservação destas áreas. O objetivo é que o mapeamento também possa contribuir na defesa pela permanência, acesso e preservação dos territórios de vida”, explica.

O surgimento do mapeamento produtivo

As primeiras iniciativas de mapeamento produtivo foram iniciadas em 2021, ainda durante a pandemia, em parceria com a Rede Sergipana de Agroecologia.   Na época, tinha-se o objetivo de impulsionar uma rede virtual de comercialização de produtos agroecológicos e, para isso, foi realizado um breve mapeamento que listava informações sobre a diversidade de produtos produzidos pelas marisqueiras atuantes no MMS. Também foi identificado naquele período que, além da diversidade de formas de trabalho e produtos, as marisqueiras também atuavam como extrativistas, agricultoras, cozinheiras e artesãs.     


Marisqueiras discutem sobre quintais produtivos | Foto: Pedro Bomba  

Em 2023, a realização da I Feira das Marisqueiras “Da Cata ao Prato” no Museu da Gente Sergipana também estimulou o fortalecimento da diversidade produtiva, apostando na feira como espaço de comercialização, divulgação e diálogo com o público em geral.   A feira também proporcionou debates, formações e oficinas sobre os processos de coleta e preparo dos mariscos, posicionando a prática da mariscagem no centro das discussões sobre políticas públicas de manutenção da vida e dos territórios da mariscagem.


Karol Coelho, pesquisadora do PEAC explica metodologia do mapeamento | Foto: Pedro Bomba 

Agora, em 2025, a Frente de Assessoria Política e Pedagógica, em conjunto com o MMS, pretende realizar o mapeamento nos sete municípios em que o Movimento atua, localizados nas regiões centro, sul e norte de Sergipe. Segundo Karol Coelho, pesquisadora do PEAC, o mapeamento inclui oficinas, reuniões de preparação para as oficinas e visitas aos territórios para georreferenciamento nas áreas de trabalho. “Além das oficinas e das reuniões, o mapeamento também pretende atualizar o diagnóstico de vulnerabilidades para compreender os desafios na realização e manutenção do trabalho destas mulheres e a sua permanência nos territórios. O mapeamento também prevê a produção de um catálogo e um curta-metragem”, explica.

 

II Feira das Marisqueiras “Da Cata ao Prato”     

Prevista para acontecer no final de outubro, a segunda edição da Feira das Marisqueiras “Da Cata ao Prato” será o espaço de culminância do mapeamento produtivo, apresentando à população sergipana a diversidade produtiva presente nos territórios da mariscagem, além de estimular a comercialização desses produtos e promover espaços de diálogo e formulação de políticas públicas voltadas às marisqueiras de Sergipe. 

 


 

 

 

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.