Carregando...
Educação popular e resistência socioterritorial, foi esse o tema principal do trabalho apresentado pelas pesquisadoras Carolina Sapucaia, Yule Neves e os pesquisadores Augusto Cruz e Bruno Bastos na X Conferencia Latinoamericana y Caribeña de Ciencias Sociales (CLACSO) realizada entre os dias 12 a 19 de junho, na cidade de Bogotá, Colômbia.
Com o título “Educação Popular e Resistência Socioterritorial: a experiência do Ciclo de Saberes Maré Cheia com comunidades tradicionais do litoral de Sergipe e Bahia (Brasil)”, o trabalho apresentado é fruto da experiência de um espaço formativo voltado à qualificação da incidência de lideranças comunitárias nas políticas de ordenamento territorial com vistas à gestão compartilhada dos espaços costeiro-marinhos.
Além disso, o trabalho também levou à Universidade Nacional da Colômbia reflexões acerca da atuação conjunta entre universidade, comunidades tradicionais costeiras e movimentos socioterritoriais na produção de conhecimento crítico sobre os inúmeros impactos ocasionados por megaprojetos e a conflitualidade territorial decorrente.
Segundo a pesquisadora Carolina Sapucaia, a apresentação do trabalho permitiu o encontro entre experiências diversas de educação popular e ambiental crítica e pesquisas latino-americanas comprometidas com os territórios e com a justiça social.
“Foi muito importante perceber o quanto o nosso trabalho dialoga com os desafios e as propostas compartilhadas em outras regiões da América Latina. A apresentação foi muito bem recebida e chamou a atenção de outros pesquisadores a magnitude do PEAC e do Projeto Compartilhar, especialmente por atuarmos com 98 comunidades tradicionais do litoral. Chamou atenção também o fato de se tratar de uma pesquisa oriunda de condicionante ambiental, realidade ainda pouco conhecida pelos irmãos e irmãs latino-americanos. Compartilhar nossas práticas educativas e os enfrentamentos territoriais nos quais estamos envolvidos, em parceria com o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe, evidenciou a potência de produzir conhecimento crítico a partir dos territórios. A Conferência do CLACSO é um evento de grande dimensão, com mesas e debates de altíssimo nível, que aprofundaram reflexões já em curso na equipe do projeto. Retornamos instigados, com o compromisso de seguir elaborando, ampliando nosso vínculo com a pesquisa e reafirmando a centralidade da educação popular crítica em nossas práticas.”, explica.
O Ciclo de Saberes Maré Cheia – espaço formativo em questão – é fruto da parceria entre o projeto Compartilhar e o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe (FPCT/SE) e foi em 2024 que o projeto e o Fórum, segundo resumo apresentado à Conferência, “organizaram dois Ciclos de Saberes Maré Cheia para abordar a trajetória de incidência nas políticas de ordenamento territorial em Sergipe e a articulação com outros movimentos socioterritoriais para organização e enfrentamento à ameaça da mineração sobre os territórios tradicionais”, explica o documento.
Governança territorial e da água para o Bem Viver
Na tarde do dia 10 de junho na Universidade Nacional da Colômbia, o Prof. Dr. Eraldo da Silva Ramos Filho, Coordenador Geral do PEAC e professor associado IV da Universidade Federal de Sergipe (UFS) mediou o painel “Gobernanza territorial y del agua para el Buen Vivir: diálogos sur-sur y horizontes sostenibles y saludables”.
Da esquerda para direita: Carlos Vacaflores Rivero, Júlia Borges, Eraldo Ramos Filho, Claudia Pilar, Edmundo Gallo e Vagner Nascimento | Assessoria
O painel teve a participação de pesquisadores da Comunidade de Estudos Jaina, da Bolívia, do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaína, ligado à Fundação Oswaldo Cruz/Rio de Janeiro e da Rede Marangatu de Pesquisa Cidadã, bem como Wagner Nascimento, coordenador do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba.
Segundo o Prof. Eraldo Ramos Filho, a participação do PEAC na CLACSO demonstra que “o Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras, condicionante do licenciamento ambiental federal conduzido pelo Ibama, configura-se como relevante ambiência latino-americana de produção de pensamento crítico e está ancorado no permanente engajamento com territórios e modos de vida tradicionais costeiros fundamentado nos postulados da educação ambiental crítica. Tais premissas contribuem para a geração de conhecimentos científicos e metodológicos, extensão universitária crítica e processos de educação popular que objetivam fortalecer os territórios produzidos a partir da centralidade da vida. Partilhar estas experiencias e acúmulos nesta X Conferência, retroalimenta nossos processos e contribui para o pensamento crítico latino-americano, fortalecendo o CLACSO”, explica o Coordenador do PEAC.
A décima edição da CLACSO em Bogotá marcou o retorno à cidade de fundação da Conferência em 1967. Com a marca de mais de 28 mil participantes de maneira presencial e cerca de 300 mil na modalidade remota, reafirmou sua posição como o maior encontro acadêmico e político das ciências sociais e humanas a nível mundial. Estiveram presentes importantes intelectuais como Silvia Federici, Manuela D’Ávila, Amitabh Behar, Arturo Escobar, Carlos Rosero, Claudia Miranda, Daniel Rojas, Francia Elena Márquez Mina, Atílio Boron, Alba Carosio, Elvira Concheiro Bórquez, Enrique Leff, Maristella Svampa. Ademais, nesta edição foi eleito como Secretário Executivo do Conselho, período 2026 – 2028 o pesquisador argentino Pablo Vommaro.
Carlos Vacaflores, Pablo Vommaro, Secretário Executivo eleito e Eraldo Ramos Filho | Assessoria
A participação de pesquisadores do PEAC no CLACSO, segundo Carolina Sapucaia, reforçou “o compromisso em seguir elaborando, ampliando nosso vínculo com a pesquisa e reafirmando a centralidade da educação popular crítica em nossas práticas", afirma.
A realização do PEAC é uma medida de mitigação exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo IBAMA.
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.