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“Os manguezais estão sumindo”, afirmam lideranças de Aracaju, São Cristóvão e Itaporanga

  • 20-01-2025
Imagem de satélite de parte do município de São Cristóvão revela a presença de viveiros de camarão

Na última sexta, 17, pescadores e marisqueiras dos municípios de Aracaju, São Cristóvão e Itaporanga se reuniram no povoado Lauro Rocha, em São Cristóvão, para participar do Fórum de Base da região Centro. Cerca de 80 pessoas – entre adultos e crianças – discutiram os impactos ambientais que ameaçam seus territórios e traçaram estratégias para o enfrentamento dessas ameaças. Por meio da autocartografia, os participantes visualizaram as características de cada um dos três municípios e compartilharam análises sobre a situação da pesca artesanal em suas regiões, a fim de compreender quais serão os desafios para 2025.

Pescadores, marisqueiras e lideranças comunitárias discutem estratégias de defesa de seus territórios | Pedro Bomba

Embora hajam extensas áreas de manguezais nos três municípios, para quem vive da pesca artesanal na região Centro do Estado, o cenário é de perda e degradação de faixas de mangue. A presença de centenas de viveiros de camarão e o surgimento desenfreado de condomínios de luxo às margens de rios, trazem como consequência o desmatamento de manguezais e o desaparecimento de espécies nativas como o caranguejo, o sururu e o aratu. O impacto dessas ações atinge a vida de milhares de pescadores e marisqueiras que encontram dificuldades para a pesca e a cata de mariscos.

“Nós estamos perdendo nosso território, nós estamos perdendo para os carcinicultores, estamos perdendo também para os megaempreendimentos que estão se instalando em nossas áreas. É preciso ter um órgão fiscalizador que realmente proteja nosso território de vida. A gente está vendo nossas fontes de água doce secando aqui em São Cristóvão porque estão desmatando e destruindo de qualquer jeito, de forma desordenada que quando a gente vê a situação só dá tristeza e vontade de chorar”, explica Marcelo Moura, vice-presidente da Associação de Lauro Rocha e conselheiro do Conselho Gestor do PEAC.


Marcelo Moura, vice-presidente da Associação de Lauro Rocha e conselheiro do Conselho Gestor | Pedro Bomba

Ainda que existam órgãos como o IBAMA, a Adema e as secretarias municipais e estadual de meio ambiente, a descrença de pescadores e marisqueiras nestes órgãos é gigantesca, isso porque comunidades tradicionais inteiras de Sergipe têm presenciado a destruição de áreas de pesca artesanal, ao passo que empreendimentos de luxo e viveiros de camarão obtém, gradualmente, licenças ambientais para realizar suas atividades. “ Isso para mim é caótico, porque a gente chega no manguezal e o acesso está fechado, chega mais adiante, encontramos tanques de camarão. Mais adiante encontramos megaempreendimentos derramando todo o resíduo de esgoto nos rios. Quando a gente chega no manguezal, encontramos o mangue cheio de pneus, garrafas, papelão, tudo. Quer dizer, quem vai sofrer com isso são nossos filhos. Nós já estamos sofrendo hoje e amanhã vão ser nossos filhos e nossos netos”, desabafa Marcelo Moura.

A situação não é diferente no município de Itaporanga D’Ajuda. Povoados localizados às margens do rio Vaza-Barris estão presenciando a chegada de condomínios de luxo e clubes náuticos. Além da destruição de faixas de manguezais para a construção desses empreendimentos, um dos problemas recorrentes aos pescadores e marisqueiras é a perda do acesso ao rio. Luziene Brito, moradora do povoado Costa, enxerga essas mudanças com preocupação. “Os grandes empreendimentos luxosos estão chegando na parte costeira e tomando o acesso ao rio em locais onde as pessoas utilizavam para tomar banho, se divertir, sair para pescar e viajar. Isso afeta muito às comunidades porque elas ficam sem saída”, explica.


Luziene Brito, moradora do povoado Costa e conselheira do Conselho Gestor | Pedro Bomba

Na Zona de Expansão, região localizada às margens do Vaza-Barris em Aracaju, a situação é ainda mais latente. Em dezembro do ano passado, por meio da Caravana das Águas – atividade realizada pelo PEAC através do Observatório Social dos Royalties - pesquisadores do Programa, pescadores e marisqueiras da região, navegaram pelo Vaza-Barris para analisar às condições da água e do território pesqueiro (leia a reportagem aqui). Aos olhos nus, foi perceptível a presença de obras públicas e privadas às margens do rio. Em alguns lugares, tratores, estruturas de ferro e homens trabalhando compõe o cenário corriqueiro da região.

Para Adriana Hora, marisqueira do povoado Areia Branca e liderança do Movimento de Marisqueiras de Sergipe (MMS), a crescente presença de empreendimentos, sejam obras da prefeitura ou condomínios e casas de luxo, tem trazido incertezas para moradores da região que se veem com receio de perder suas casas ao passo que as construções avançam. “Você conversa com as pessoas e elas estão aflitas com tudo isso que está acontecendo. Muita gente está com medo de ser obrigada a sair de suas casas por conta da obra da prefeitura ou por conta dos condomínios. O medo é ir para o aluguel ou ter que morar na casa de familiares”, explica.


Adriana Hora, liderança do Movimento de Marisqueiras de Sergipe e moradora do povoado Areia Branca | Pedro Bomba

Fórum de Base e o Encontro do PEAC


Lideranças e pesquisadores reunidos no Fórum de Base em Lauro Rocha, São Cristóvão | Pedro Bomba

O Fórum de Base é uma atividade de formação política preparatória para o XIII Encontro do PEAC (EPEAC) com data marcada entre os dias 30 de janeiro a 02 de fevereiro deste ano. O Encontro reunirá cerca de 250 pescadores e marisqueiras do estado de Sergipe para discutir estratégias de defesa de seus territórios.

 

 

 

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.