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Impactos ambientais no norte de Sergipe são temas de Fórum de Base

  • 16-01-2025
Muitos impactos ambientais e ameaças se acumulam em toda costa norte de Sergipe trazendo consequências diretas à vida de pescadores e marisqueiras

Carcinicultura, ameaças aos territórios, exploração de petróleo, termoelétrica, energia eólica, especulação imobiliária e degradação ambiental foram alguns dos impactos ambientais apontados por pescadores, marisqueiras e extrativistas da região Norte de Sergipe durante o primeiro Fórum de Base que ocorreu nesta, quarta, 15 de janeiro, na Associação das Catadoras de Mangaba do povoado Capuã, município de Barra dos Coqueiros.

Como espaço preparatório para o encontro do PEAC - que acontecerá entre os dias 30 de janeiro a 2 de fevereiro -, o Fórum de Base da região Norte reuniu cerca de 30 representantes dos municípios de Barra dos Coqueiros, Pirambu, Pacatuba e Brejo Grande para discutir e formular estratégias de defesa dos territórios da pesca.


Pescadores, marisqueiras e pesquisadoras analisam dados e informações produzidas na autocartografia do litoral norte de Sergipe | Pedro Bomba 

Com a metodologia da Autocartografia, desenvolvida pelas pesquisadoras do PEAC, os pescadores e marisqueiras puderam remontar o mapa de seus povoados, demarcando a presença dos rios, dos locais de trabalho, das atividades agrícolas e pesqueiras, além de apontar a presença de ameaças aos territórios.

Muitos impactos ambientais e ameaças se acumulam em toda costa norte de Sergipe, trazendo consequências diretas à vida dessas populações, embora cada município possua problemas distintos enfrentados pelas comunidades tradicionais. É o caso da comunidade de Jatobá, localizada no município de Barra dos Coqueiros.

“Como morador de Jatobá, eu digo que a situação está muito difícil para nós. Tem muitas empresas chegando como refinaria, petróleo e gás, condomínios que estão prejudicando muito os pescadores e estão acabando todas as mangabeiras. Nós esperamos uma atenção maior da prefeitura e dos órgãos ambientais porque a comunidade de Jatobá está muito esquecida, nós não temos um parque para as crianças brincarem, não temos um curso, um reforço para as crianças que estão de férias. Nós sabemos que o município recebe os recursos dos royalties, mas não vemos esse dinheiro investido em Jatobá. Era importante ter uma boa creche, postos de saúde de qualidade. Eu gostaria que os órgãos olhassem pra gente, porque estamos completamente abandonados”, desabafa Marcelo Pereira, liderança de Jatobá e membro do Conselho Gestor do PEAC.


Marcelo Pereira e Robério da Silva (à direita), lideranças do povoado Jatobá e do quilombo Pontal da Barra, respectivamente. | Pedro Bomba 

A Autocartografia também possibilitou que os pescadores e marisqueiras conhecessem os problemas dos quatro municípios da costa norte sergipana. Com gráficos e mapeamento dos problemas enfrentados, a equipe de pesquisadores do PEAC traçou com os participantes, possíveis estratégias de enfrentamento desses problemas, dando ênfase à organização social.


Autocartografia do município de Brejo Grande, metodologia utilizada pela equipe de pesquisadores do PEAC | Pedro Bomba 

Para a marisqueira e pescadora Marlucia dos Santos, de Ponta dos Mangues, município de Pacatuba, a carcinicultura é um dos principais problemas enfrentados nos territórios. “Uma coisa que percebi é que todos os municípios que estiveram aqui, Barra dos Coqueiros, Brejo Grande, Pacatuba, Pirambu, sofrem com o problema da carcinicultura que tem destruído parte de manguezais e espalhado veneno nos rios e no mangue”, explica Marlucia.


Em destaque, Marlucia dos Santos, pescadora e marisqueira de Ponta dos Mangues, Pacatuba | Pedro Bomba 

Sergipe Águas Profundas

Outra preocupação latente dos moradores da região Norte está no projeto da Petrobras Sergipe Águas Profundas (SEAP), que prevê a instalação de navios de exploração de petróleo e gás à 100km de distância da costa sergipana (em território da Barra dos Coqueiros), e a construção de 23 km de gasodutos que transportarão o gás extraído no oceano para o ponto de entrega em Japaratuba.


Equipe de pesquisadores do PEAC apresentam os impactos ambientais do projeto Águas Profundas | Pedro Bomba 

Caso seja licenciado, a instalação desse megaprojeto - com produção estimada em 120.000 mil barris/dia - ocasionará diferentes impactos aos povoados, como a interdição de áreas de pesca no oceano para instalação dos navios plataformas, a escavação de 23km de área correspondente ao trecho terrestre que cortará povoados, rios e áreas de proteção ambiental, além do risco iminente de vazamento de petróleo e gás.

Uma dessas comunidades que sofrerá impactos diretos caso o Sergipe Águas Profundas seja licenciado, é o quilombo Pontal da Barra, situado na Barra dos Coqueiros, às margens da foz do rio Japaratuba. Localizado há 1,5km de distância da área prevista para a construção do gasoduto que ligará os trechos marítimo e terrestre, o SEAP é visto com grande apreensão pelas lideranças do quilombo.

“Nós sabemos que esse empreendimento vai prejudicar a pesca no litoral de Sergipe todo, porque vai ficar no meio do estado, então isso impacta o trânsito desses pescadores e não está havendo uma preocupação com relação à população pesqueira. Vai atingir muita gente, muitas pessoas sofrerão com esses impactos e não será pouca gente, da foz do São Francisco à Foz do Rio Piauí serão milhares de pescadores impactados”, comenta Robério da Silva, pescador e liderança quilombola do Pontal da Barra.

Encontro do PEAC

Com data marcada entre os dias 30 de janeiro a 02 de fevereiro deste ano, o Encontro do PEAC (EPEAC) reunirá cerca de 250 pescadores e marisqueiras do estado de Sergipe para discutir estratégias de defesa de seus territórios. Até a data do encontro, a equipe de pesquisadores do Programa realizarão quatro fóruns de base referentes às regiões Norte, Sul, Centro de Sergipe e o Norte da Bahia, com objetivo de preparar e introduzir as discussões e temas que serão abordados durante o EPEAC.

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.