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Entre os dias 25 e 30 de Novembro, na cidade de Estância, a Comunidade Quilombola do Porto D'Areia celebrou a negritude durante a 11ª edição do Encontro Cultural, que teve como objetivo a promoção de uma semana de cultural recheada de momentos festivos em alusão ao Novembro Negro, mês da Consciência Negra. Na programação, cortejos, apresentações culturais, homenagens a moradores ilustres, discussões sobre autorreconhecimento quilombola e muitas outras atividades envolveram toda a comunidade.
No primeiro ano em que o dia 20 de novembro foi sancionado como feriado nacional, o Encontro trouxe como tema “Cultura, Ancestralidade, Biodiversidade e Modo de Viver no Quilombo Porto D’areia”, saudando as raízes quilombolas, suas formas de existir e resistir, os saberes ancestrais na figura do mestre Jorge Maravilha, que teve sua memória póstuma homenageada, ao lado de Zé Antônio Quilombola, mestre repentista das batucadas, e padrinho do Encontro.
Zé Antônio Quilombola hasteando a nova bandeira, na frente da sede da Associação dos Quilombolas | Evy de Oliveira
Zé Antônio Quilombola é um mestre que começou a brincar a batucada aos 12 anos, hoje com 71, Zé acumula 59 anos de envolvimento com a cultura local. Sua ligação com a cultura estanciana se deu de modo orgânico e espontâneo, frequentando as rodas, desenvolvendo contato com os instrumentos e o batuque. Atualmente, Zé Antônio tem enfrentado dificuldades na continuidade da batucada, por conta da mobilidade física que impacta diretamente seu fazer artístico, e por conta do descaso do poder público de Estância que não promove políticas públicas para a manutenção das batucadas. “Eu gosto muito da cultura e a cultura também vai depender do prefeito pra ajudar, né? Acabou a maioria das batucadas porque o custo de vida do povo, tudo é caro hoje”, explica.
Zé Antônio Quilombola e Wellington, liderança comunitária do Quilombo Porto D’areia | Evy de Oliveira
O 11º Encontro Cultural do qual Zé Antônio foi celebrado como padrinho, teve sua abertura na manhã da segunda-feira, 25, com o cortejo cultural das Batucadas Juninas: “Improviso do Quilombo Porto D’Areia, Gilbertão e convidados” até a sede da Associação na Avenida Nova, seguido pelo arriamento da bandeira do quilombo 2023 com acompanhamento do hino “Negritude”, composto pelo professor Eduardo Oliveira. O hasteamento da bandeira 2024 foi realizado pelo mestre Zé Antônio Quilombola, simbolizando um novo ano na comunidade. O dia foi finalizado com a exposição artística na sede da Associação Quilombo Porto D’Areia e a reunião para o autorreconhecimento quilombola, processo pelo qual todos e todas precisam passar ao decidir integrar a Associação Quilombola.
Meninas das Batucadas Juninas com Zé Antônio Quilombola durante o cortejo de abertura do evento | Evy de Oliveira
No decorrer da semana, a programação seguiu permeada de atividades que tiveram início na tarde da terça-feira, 26, com a apresentação do vídeo devolutivo do Intercâmbio Internacional com a Rede Marangatu, que foi realizado no Quilombo Porto D’Areia no mês de julho deste ano, durante a tradicional Festa dos Fogueteiros. A exibição do vídeo foi acompanhada pela análise e aprovação do mapa de cartografia social do território quilombola. Ao final do dia, uma deliciosa sessão de cinema com pipoca na Avenida Nova do Porto reuniu a criançada em frente à Associação.
Foto final da apresentação da cartografia social entre equipe técnica e comunidade | Esdras Amaro
A quarta-feira, 27, iniciou com a tradicional feira quilombola, onde diversas artesãs expuseram seus variados trabalhos em crochê, biojóias, panos decorados e comidas típicas da comunidade. A programação continuou com uma palestra ofertada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) na pessoa do professor Lício Valério, que se debruçou sobre o tema “Turismo de base comunitária no Quilombo Porto D’Areia”
Entre conversas e batuques, a programação seguiu com uma roda de conversa com o Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS) e a apresentação do teatro das marisqueiras. O MMS é uma das principais frentes na defesa pela terra, águas e a vida em Sergipe, movimento composto por mulheres que têm sua vida pautada no mangue, na comunidade e na luta. Uma de suas ferramentas no combate aos crimes ambientais é o Teatro, no qual elas utilizam da rua, do palco popular e da arte cênica para expor as violências que seus corpos e territórios têm sofrido frente à carcinicultura, especulação imobiliária e o descaso do poder público para com o meio ambiente, de onde elas tiram seu alimento, sustentam, e constroem suas vidas. As atividades das Marisqueiras no Encontro ocorreram fruto da articulação entre as lideranças dos territórios que compõem o MMS e o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe.
Apresentação teatral das marisqueiras | Esdras Amaro
Na tarde do sábado , 30, o projeto Pequeno Sorriso realizou mais um cortejo com a participação ativa das crianças da comunidade.Jogos, danças e brincadeiras encerraram a intensa semana de atividades de valorização da cultura, arte e negritude do Porto D’Areia. A realização deste evento fortaleceu o orgulho quilombola e preparou as futuras gerações para os desafios em defesa da vida das comunidades tradicionais.
A realização do PEAC é uma medida de mitigação exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo IBAMA.
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.