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Até em Brejão dos Negros tem ameaça de morte |
Não se pode caminhar pelo pedaço de chão
Pois os vigias de viveiros |
Proíbem com arma na mão |
Mas não deixo de lutar |
Pra viver em nosso chão
Penso até em desistir |
Mas não é do meu feitio |
Continuo a resistir |
Na defesa do meu rio
Foi assim, em forma de cordel, que lideranças comunitárias resumiram uma das discussões da 12ª Reunião da 5ª Gestão do Conselho Gestor do PEAC, a primeira presencial desde março de 2020, quando teve início o isolamento social em decorrência da pandemia de Covid-19.
Com sorriso no rosto e vacina no braço, Conselheiros Gestores, mulheres do Movimento das Marisqueiras de Sergipe, membros do Observatório Social do Royalties e do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais, equipe técnica do PEAC e representantes da Petrobras se reuniram durante os dias 28, 29 e 30 de abril e 1 de maio em Aracaju-SE para debater questões ligadas aos desafios e enfrentamentos nos territórios de vida de Povos e Comunidades Tradicionais, além de matar a saudade, claro.
Aquilo que as comunidades vinham denunciando virtualmente pode ser conversado de forma mais efetiva: o combo derramamento de petróleo mais pandemia aprofundou os conflitos territoriais e intensificou as ameaças às vidas nas comunidades. A diminuição drástica da renda, a fome, a poluição do ar e das águas, o êxodo rural e as doenças físicas e psicológicas são algumas das consequências vivenciadas no dia a dia.
“O crime ambiental [o derramamento de petróleo] e a pandemia não podem ser vistos apenas como um desastre ou um problema de saúde, mas, sobretudo, uma consequência do processo de exploração do capitalismo”, iluminou o professor Eraldo Ramos, coordenador geral do PEAC.
“Um exemplo disso é o aumento da riqueza das pessoas e grupos mais ricos durante esse período - como as empresas de medicamentos e o agronegócio - e os empobrecidos ficando mais pobres. Por isso se faz necessário avançar nas ações do Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais”, complementou.
Além do Fórum, o Gerenciamento Costeiro, a CHÃO Assessoria Técnica Popular e o Observatório Social dos Royalties foram ações apresentadas como mecanismos para o enfrentamento, temas que renderão formações previstas para o segundo semestre de 2022.
Reencontro
Quatro horas de reunião online com falas reduzidas, problemas de conexão e baixa participação foram substituídas por quatro dias de reunião discutindo os assuntos tim tim por tim tim. Para Rosana Batista, coordenadora acadêmica do projeto Conselho Gestor, essa retomada recupera o sentido da luta, que só é possível “pelo calor do outro, pelo sentido do outro”.
A presencialidade da reunião também favoreceu a circulação de informações sobre o andamento dos projetos de compensação da Petrobras para as comunidades. A fim de tornar a conversa sobre o assunto mais fluida e transparente, a discussão foi ampliada de um para dois turnos, motivo de elogio de Luana Santos, conselheira de Caípe Velho, São Cristóvão-SE. “As compensações já vieram destrinchadas e a gente pode ver cada uma de forma mais clara. Agora é tocar o barco de onde paramos e colocar o trem nos trilhos”, motivou.
Cesar Santos, analista do projeto Conselho Gestor, participou pela primeira vez de uma RCG presencial e compartilhou a felicidade de ver todas as pessoas vivas, vacinadas e com saúde. “Foi uma oportunidade de reencontro e de recuperar a mobilização, a articulação e a organização política dessas comunidades. Sobre autonomia, foi muito interessante ver as lideranças conduzindo os espaços da reunião”.
Já Seu Domenício, conselheiro de Brejo Grande-SE, ficou surpreso com a continuidade das pautas após o hiato. “Mesmo com a distância, nenhuma das nossas questões foi esquecida”. E, para finalizar, a fala de Seu Luciano, conselheiro da Atalaia Velha, materializa um sentimento compartilhado por todos, todas e todes:
“O PEAC se tornou uma família e quando membros de uma família se separam gera uma vacância, a gente sente muita falta. Esse era um dos motivos de nós querermos voltar a nos encontrar, mas a produtividade também entrou em ação”.
O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.