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Marisqueiras participam de Oficina de Educomunicação e produzem cadernos artesanais

  • 13-09-2016

“Essa também é a história da minha vida”. Foi o que disse a marisqueira Gilza Maria, do povoado Robalo, ao ouvir os diários de Carolina Maria de Jesus. A leitura de trechos do livro Quarto de Despejo, Diário de uma favelada – escritos por Carolina – fizeram parte da programação da primeira oficina de Educomunicação ministrada pelo Comunicador Social Pedro Alves. Através da sensibilização teatral, as marisqueiras imaginaram o cenário a qual vivia a escritora, catadora de papel e moradora da Favela do Canindé.

Apesar da história de Carolina ter acontecido na década de 50 na cidade de São Paulo, muitos dos seus relatos assemelham-se com a realidade das marisqueiras. “Na minha comunidade existem diversas pessoas que trabalham com a cata de papéis e reciclados, sei bem como é a casa e as dificuldades dessas pessoas”, compartilha Ana Elísia, do povoado Terra Caída.

Carolina passou a maior parte da sua vida convivendo com a fome, dormindo em barracos e catando papel. Mesmo sem ter acesso pleno à educação, o pouco que aprendeu, nos primeiros anos de escola, foi suficiente para Carolina escrever dezenas de diários relatando a vida na favela. Os diários ganharam o mundo e seu livro Quarto de Despejo foi traduzido para 13 idiomas.

Escrevendo a própria história

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O Comunicador Social Pedro Alves explica o processo de produção de cadernos artesanais

Embora os mariscos sejam os principais ingredientes da culinária sergipana, poucas pessoas conhecem o processo da mariscagem e filetagem do camarão. Quem saboreia as delícias do mar, nem imagina as dificuldades, riscos, cortes nas mãos, vulnerabilidade à doenças e a desvalorização do trabalho das mulheres marisqueiras.

É evidente que por mais que sejam divulgadas em reportagens a situação da mariscagem em Sergipe, são as marisqueiras que possuem o conhecimento histórico sobre o mar, o mangue, a maré e os mariscos. Portanto, são elas, as pessoas capazes de escreverem a própria história.

No segundo momento da oficina, as marisqueiras representantes de sete comunidades ( Porto do Mato, Tibúrcio, Muculanduba, Pontal, Terra Caída, Pedra Furada e Bairro Industrial)  produziram cadernos artesanais com cartolinas, papéis e tinta. Também utilizaram do estêncil – técnica empregada para aplicar desenhos – na produção das capas dos cadernos.

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Marisqueiras aplicam desenho em capa a partir da técnica do estêncil

A partir de agora, os dias de trabalho na mariscagem, as histórias e causos serão relatados nos diários das marisqueiras. Para Ticiane Pereira, técnica do Projeto de Organização e Fortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras no Litoral de Sergipe, esse foi o primeiro passo na criação de novos meios de comunicação.

“A oficina surge para estimular novas ferramentas de comunicação capazes de dar visibilidade à realidade das marisqueiras. Além disso, os cadernos colocarão em evidência a potencialidade das marisqueiras no processo de criar e executar a própria comunicação”, afirma.

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Marisqueiras apresentam resultado da oficina

Essa foi a primeira oficina de Educomunicação realizada com as marisqueiras. O objetivo é que, durante todo convênio, oficinas sejam executadas com objetivo de fortalecer a organização das mulheres e a fundação do Movimento das Marisqueiras de Sergipe. A segunda oficina já tem data marcada para o dia 30 de setembro, no povoado Porto do Mato.

 

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.