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Região Centro encerra Encontros Regionais do Conselho Gestor do PEAC

  • 08-02-2017

Comunitários dos municípios de Aracaju, Itaporanga, Barra dos Coqueiros e São Cristovão participaram do encontro

“É no lugar que a gente vive que a gente institui quem somos, é no lugar que a gente vive que a gente constrói a nossa identidade”

Alzeni Tomaz- Educadora Ambiental

O Encontro Regional do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC), em sua terceira edição em 2017, aconteceu no dia 4 de fevereiro, na Universidade Federal de Sergipe. Dessa vez foi na Região Centro que ocorreu a discussão sistemática sobre os conflitos socioambientais regionais, com foco nos municípios de Aracaju, Itaporanga, Barra dos Coqueiros e São Cristovão.

Os Encontros Regionais foram regidos pelo estímulo a uma maior aproximação entre Conselheiros do PEAC e suas bases comunitárias e a organização dos eventos contou com o protagonismo deles desde a etapa de preparação, com a realização de Grupos de Trabalho. Os Conselheiros Djalma José de Jesus, Clécio Cardoso dos Santos, Josiane Souza Santos, Adilma Santos e Ênio Pereira Rabelo conduziram as atividades durante o Encontro na Região Sul com o apoio da equipe técnica do PEAC, da UFS, que teve um papel decisivo dando todo o suporte para a concretização dos Encontros . Na Região Norte, o evento foi conduzido pelo Conselheiro Ênio Pereira Rabelo, de Pirambu, que fez o cerimonial, e pelas Conselheiras Marivalda Domingos Silva, da comunidade de Junça, e Maria de Fátima Santos Gentil, da comunidade de Santana dos Frades, ambas do município de Pacatuba. Na Região Centro a condução foi dos Conselheiros Adilma Santos, de Aracaju, e Ênio Pereira Rabelo.

Adilma Santos é conselheira na região centro e foi uma das condutoras do encontro

Os conflitos socioambientais no território sergipano são parecidos, mas existem particularidades em cada região. Os Encontros Regionais possibilitaram a troca de informações e uma maior articulação entre as comunidades. Em cada Encontro Regional os comunitários discutiram formas de organização e possíveis soluções para os conflitos vividos, mesmo cientes de suas dificuldades e da divergência de interesses dos diversos atores sociais envolvidos.

Na Região Centro o conflito apontado como mais urgente a ser resolvido é a questão da desapropriação de famílias, na região conhecida como Barrosinho, em Aracaju, para a construção de condomínios de luxo. A Conselheira Adilma dos Santos, moradora do local, explicou a situação e os comunitários presentes se solidarizaram e, como encaminhamento do Encontro, propuseram a realização de uma rádio-feira na feira do bairro. Os comunitários dos municípios vizinhos se comprometeram em ajudar na organização do ato. As exposições dialogadas de Alzeni Freitas Tomaz, bacharel em Direito, educadora popular e pesquisadora junto aos povos e comunidades tradicionais, tiveram a finalidade de fazer com que os participantes dos Encontros refletissem de maneira crítica sobre os conflitos ambientais na conjuntura nacional, marcada por mudanças no processo de licenciamento ambiental, pela perda de direitos sociais e pela privatização das águas. Para o comunitário José Fernandes dos Santos, residente no município de São Cristovão, as exposições de Alzeni foram excelentes. “Eu achei muito boa a forma como ela trata as nossas questões, no início fiquei com medo de não entender muito bem, mas ela fala a nossa língua e conhece bem a nossa realidade”, analisou.

O comunitário José Fernandes elogiou a didática da palestrante Alzeni Freitas

Desde o primeiro Encontro Alzeni chamou a atenção para o momento político que o Brasil está vivendo. “Estamos em um momento histórico muito difícil, principalmente para as comunidades tradicionais, algumas dessas comunidades se encontram em um processo de maior vulnerabilidade, os pescadores e as pescadoras artesanais é uma dessas comunidades que estão sofrendo todas as agruras do capital e o processo está acelerando cada vez mais, então se a gente não fizer processos de formação, para provocar os pescadores a terem processos de formação emancipatória e mais crítica, nós vamos estar fadados ao desaparecimento dessas comunidades”, explicou Alzeni.

Assim como nas outras regiões, os comunitários da Região Centro se organizaram em grupos de trabalho para a identificação dos principais conflitos vivenciados nas localidades onde residem. O propósito dos grupos, conduzidos pelos comunitários com o apoio da equipe técnica do PEAC, foi dialogar sobre relevantes aspectos envolvidos nos impactos socioambientais mais presentes em sua região. Na Região Centro os principais conflitos identificados foram a especulação imobiliária, a privatização de áreas públicas e a extração do petróleo. Problemas como aumento da prostituição, ameaças de morte, violência contra as mulheres pescadoras, erosão eólica e perda de território foram exemplificados pelos presentes como principais conseqüências desses conflitos.

Nos três encontros os conselheiros fizeram a apresentação do Guia de Bolso, material produzido pela equipe do PEAC, a partir de demanda solicitada pelo Conselho Gestor durante os Grupos de Trabalho realizados com os Conselheiros, entre os meses de novembro e dezembro de 2016. No Guia de Bolso consta uma lista de contatos de órgãos responsáveis pela fiscalização de crimes ambientais.

Além da realização da rádio-feira, no mercado do Conjunto Augusto Franco, em Aracaju, ficou encaminhado que os presentes compartilhariam os conteúdos dos Encontros Regionais em suas comunidades e que se articulariam através de grupo na rede social Whatsapp, para fotografar e filmar os crimes ambientais que presenciarem em suas comunidades e encaminharem as denúncias para os órgãos responsáveis pela fiscalização.

Ainda como parte da programação, os presentes avaliaram a qualidade dos eventos por meio de uma dinâmica participativa e mais de 93% dos votos foram classificando os Encontros Regionais como excelentes ou bons, incluindo a avaliação de aspectos como qualidade da palestra e participação dos comunitários, que são relevantes para a melhoria dos próximos encontros.

 

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.