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Marisqueiras de Sergipe dão início às eleições para coordenações locais do MMS

  • 13-03-2017

As mulheres marisqueiras membros da comissão articuladora do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS) estiveram reunidas na comunidade de Carapitanga, município Brejo Grande, no dia 20 de fevereiro de 2017, e na sede de Pirambu, no dia 21 do mesmo mês, para realizar as eleições das coordenações locais do MMS. Essas mulheres fazem parte do Projeto de Organização e Fortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras do Litoral de Sergipe, desenvolvido no âmbito do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC).

 

“Hoje nós somos as protagonistas”. Foi com essa frase que a marisqueira Geonísia Vieira Dias, conhecida como Nice, do povoado Muculanduba, em Estância, deu início às reuniões eletivas nas quais as carapitangueses e pirambuenses escolheram suas coordenações locais. Quando Nice diz “nós”, refere-se às mulheres marisqueiras que não só elaboraram e conduziram todas as atividades desenvolvidas nas reuniões como também mobilizaram as companheiras nos dias 7 e 8 de fevereiro.

 

Nice contempla em sua fala todas as outras trabalhadoras da pesca presentes, pois o “bate-papo”, como ela prefere denominar o evento, era de marisqueira para marisqueira, a começar pela peça teatral apresentada pela comissão para sensibilizar as moradoras de Carapitanga e Pirambu a se somarem ao movimento. As reuniões realizadas nas duas comunidades tiveram a mesma programação.

 

Na apresentação, após uma preparação feita com técnicas de educomunicação com a equipe de comunicação do PEAC, as marisqueiras encenaram papéis do seu próprio cotidiano. A partir do Teatro do Oprimido, em uma cena de enfrentamento à privatização de áreas ribeirinhas, elas enfatizaram as dores causadas pela profissão e apresentaram a construção do MMS como possibilidade de organização pela luta dos direitos das mulheres trabalhadoras da pesca artesanal.

 

O teatro funcionou como uma ferramenta importante de diálogo. As mulheres da plateia envolviam-se na apresentação na medida em que se identificavam com o contexto da mulher marisqueira e com as personagens. “O que elas representam não tem diferença nenhuma do dia a dia das pescadoras”, conta Rosimeire Gonçalves, moradora de Pirambu.

 

O objetivo da reunião foi apresentado pelas representantes da comissão articuladora do MMS. A todo momento, mulheres da comissão destacavam a importância do trabalho coletivo para a transformação social. “O governo é poderoso, mas nós juntas também somos poderosas, é só nós querermos”, instigou Gilza Maria Santos, marisqueira da comissão articuladorado movimento.

 

Elas também comemoravam os ganhos do movimento. “Criamoso MMS, já temos nossa bandeira, temos outros movimentos junto conosco”, incentivou Maria Adriana dos Santos.

 

Ainda antes do momento daeleição, foi exibido o vídeo “Organização política das marisqueiras” sobre a trajetória do projeto, produzido em conjunto com a equipe técnica de comunicação do PEAC.Em seguida, para iniciar o processo eleitoral, as marisqueiras apresentaram o documento elaborado por elas mesmas “Princípios e critérios de elegibilidade para eleição das coordenações locais do MMS”.

 

Cátia dos SantosFontes, analista do projeto, avalia o processo como positivo por ter alcançado um alto nível de envolvimento entre as marisqueiras. “As mobilizações têm funcionado como intercâmbio entre as comunidades. Elas fizeram com que as marisqueiras participassem mais. A ideia é justamente essa, porque estamos trabalhando com elas o desenvolvimento de sua própria autonomia”.

 

Carapitanga

 

“Eu vim aqui porque eu quero liberdade”, foi com essa resposta que a pescadora Nazaré Francisca Nunes, moradora “nascida e criada em Carapitanga”, explicou o motivo do seu engajamento nas reuniões eletivas do movimento das marisqueiras. Durante o evento a palavra “liberdade” esteve presente nas falas de outras moradoras.

 

No povoado foram eleitas as pescadoras Maria do Carmode Oliveira Santos – Kika e Gesilda Santos Ferreira- Nêga- para a coordenação localdo movimento. Apesar de estar situado às margens da foz do rio São Francisco, o povoado de Carapitanga padece com a falta de água potável e de serviços de saúde. Foram essas as principais preocupações relatadas por Nêga. “Aqui temos um hospital grande e bonito, mas só vem doutor de vez em quando e não consegue atender a nossa população. Fora o problema da falta de água, eu acredito que o movimento vai nos ajudar a lutar por essas questões e por outras carências que temos aqui”, salientou.

 

Participaram da reunião 20 mulheres da região.

 

Pirambu

 

Em Pirambu, 40 mulheres somaram-se à reunião eletiva após mobilização no porto – onde poucas marisqueiras trabalhavam no dia devido àausência de camarão.A resistência inicial de algumas mulheres durante a mobilização tornou evidente o preparo da comissão para conduzir o movimento. Com o desafio de convencer outras mulheres a construírem o trabalho no qual elas acreditam, as marisqueiras organizadoras usaram toda a didática e conhecimento acumulado, mas, sobretudo, a fala marcada pelo desejo de superar as dificuldades enfrentadas na pesca.

 

“A nossa luta só nós que sabemos. Vamos nos unir ao Mosqueiro, ao Bairro Industrial, ao Porto do Mato e a outras comunidades para lutar. Queremos Pirambu junto conosco. Não tenham medo”, convidou Nice. Emocionada com o momento, só restou agradecer. “Muito obrigada por vocês estarem aqui”.

 

A pescadora de Pirambu Daisy Anne Vieira dos Santos não hesitou em aceitar o convite. “No galpão em que nós trabalhamos só tem mulher, porque os homens ficam no alto mar. Se a gente não lutar por nós, não são eles que vão lutar”, disse ela ao participar ativamente da reunião.

 

Quatro mulheres candidataram-se à eleição, das quais foram eleitas Maria Salvadora da Anunciação, conhecida com Salvinha, e Daisy Anne Vieira dos Santos. Salvinha, que já participou antes do Conselho Gestor do PEAC, da Associação de Marisqueiras de Pirambu e esteve articulada em movimento pesqueiro, acredita que “mulheres muito unidas jamais serão vencidas”. Ela espera conseguir defender os direitos das marisqueiras. “Direitos que muitas vezes nem sabemos que temos”, explica.

 

Além das duas referidas comunidades, serão realizadas eleições em outras doze abrangidas pelo PEAC: Rita Cacete e Apicum (São Cristóvão); Mosqueiro, Areia Branca e Bairro Industrial (Aracaju); Pontal e Terra Caída (Indiaroba); Praia do Saco, Tibúrcio, Muculanduba e Porto do Mato (Estância); e Pedra Furada e Rua da Palha (Santa Luzia do Itanhi).

 

As mulheres marisqueiras membros da comissão articuladora do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS) estiveram reunidas na comunidade de Carapitanga, município Brejo Grande, no dia 20 de fevereiro de 2017, e na sede de Pirambu, no dia 21 do mesmo mês, para realizar as eleições das coordenações locais do MMS. Essas mulheres fazem parte do Projeto de Organização e Fortalecimento Sociopolítico das Marisqueiras do Litoral de Sergipe, desenvolvido no âmbito do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC).

 

“Hoje nós somos as protagonistas”. Foi com essa frase que a marisqueira Geonísia Vieira Dias, conhecida como Nice, do povoado Muculanduba, em Estância, deu início às reuniões eletivas nas quais as carapitangueses e pirambuenses escolheram suas coordenações locais. Quando Nice diz “nós”, refere-se às mulheres marisqueiras que não só elaboraram e conduziram todas as atividades desenvolvidas nas reuniões como também mobilizaram as companheiras nos dias 7 e 8 de fevereiro.

 

Nice contempla em sua fala todas as outras trabalhadoras da pesca presentes, pois o “bate-papo”, como ela prefere denominar o evento, era de marisqueira para marisqueira, a começar pela peça teatral apresentada pela comissão para sensibilizar as moradoras de Carapitanga e Pirambu a se somarem ao movimento. As reuniões realizadas nas duas comunidades tiveram a mesma programação.

 

Na apresentação, após uma preparação feita com técnicas de educomunicação com a equipe de comunicação do PEAC, as marisqueiras encenaram papéis do seu próprio cotidiano. A partir do Teatro do Oprimido, em uma cena de enfrentamento à privatização de áreas ribeirinhas, elas enfatizaram as dores causadas pela profissão e apresentaram a construção do MMS como possibilidade de organização pela luta dos direitos das mulheres trabalhadoras da pesca artesanal.

 

O teatro funcionou como uma ferramenta importante de diálogo. As mulheres da plateia envolviam-se na apresentação na medida em que se identificavam com o contexto da mulher marisqueira e com as personagens. “O que elas representam não tem diferença nenhuma do dia a dia das pescadoras”, conta Rosimeire Gonçalves, moradora de Pirambu.

 

O objetivo da reunião foi apresentado pelas representantes da comissão articuladora do MMS. A todo momento, mulheres da comissão destacavam a importância do trabalho coletivo para a transformação social. “O governo é poderoso, mas nós juntas também somos poderosas, é só nós querermos”, instigou Gilza Maria Santos, marisqueira da comissão articuladorado movimento.

 

Elas também comemoravam os ganhos do movimento. “Criamoso MMS, já temos nossa bandeira, temos outros movimentos junto conosco”, incentivou Maria Adriana dos Santos.

 

Ainda antes do momento daeleição, foi exibido o vídeo “Organização política das marisqueiras” sobre a trajetória do projeto, produzido em conjunto com a equipe técnica de comunicação do PEAC.Em seguida, para iniciar o processo eleitoral, as marisqueiras apresentaram o documento elaborado por elas mesmas “Princípios e critérios de elegibilidade para eleição das coordenações locais do MMS”.

 

Cátia dos SantosFontes, analista do projeto, avalia o processo como positivo por ter alcançado um alto nível de envolvimento entre as marisqueiras. “As mobilizações têm funcionado como intercâmbio entre as comunidades. Elas fizeram com que as marisqueiras participassem mais. A ideia é justamente essa, porque estamos trabalhando com elas o desenvolvimento de sua própria autonomia”.

 

Carapitanga

 

“Eu vim aqui porque eu quero liberdade”, foi com essa resposta que a pescadora Nazaré Francisca Nunes, moradora “nascida e criada em Carapitanga”, explicou o motivo do seu engajamento nas reuniões eletivas do movimento das marisqueiras. Durante o evento a palavra “liberdade” esteve presente nas falas de outras moradoras.

 

No povoado foram eleitas as pescadoras Maria do Carmode Oliveira Santos – Kika e Gesilda Santos Ferreira- Nêga- para a coordenação localdo movimento. Apesar de estar situado às margens da foz do rio São Francisco, o povoado de Carapitanga padece com a falta de água potável e de serviços de saúde. Foram essas as principais preocupações relatadas por Nêga. “Aqui temos um hospital grande e bonito, mas só vem doutor de vez em quando e não consegue atender a nossa população. Fora o problema da falta de água, eu acredito que o movimento vai nos ajudar a lutar por essas questões e por outras carências que temos aqui”, salientou.

 

Participaram da reunião 20 mulheres da região.

 

Pirambu

 

Em Pirambu, 40 mulheres somaram-se à reunião eletiva após mobilização no porto – onde poucas marisqueiras trabalhavam no dia devido àausência de camarão.A resistência inicial de algumas mulheres durante a mobilização tornou evidente o preparo da comissão para conduzir o movimento. Com o desafio de convencer outras mulheres a construírem o trabalho no qual elas acreditam, as marisqueiras organizadoras usaram toda a didática e conhecimento acumulado, mas, sobretudo, a fala marcada pelo desejo de superar as dificuldades enfrentadas na pesca.

 

“A nossa luta só nós que sabemos. Vamos nos unir ao Mosqueiro, ao Bairro Industrial, ao Porto do Mato e a outras comunidades para lutar. Queremos Pirambu junto conosco. Não tenham medo”, convidou Nice. Emocionada com o momento, só restou agradecer. “Muito obrigada por vocês estarem aqui”.

 

A pescadora de Pirambu Daisy Anne Vieira dos Santos não hesitou em aceitar o convite. “No galpão em que nós trabalhamos só tem mulher, porque os homens ficam no alto mar. Se a gente não lutar por nós, não são eles que vão lutar”, disse ela ao participar ativamente da reunião.

 

Quatro mulheres candidataram-se à eleição, das quais foram eleitas Maria Salvadora da Anunciação, conhecida com Salvinha, e Daisy Anne Vieira dos Santos. Salvinha, que já participou antes do Conselho Gestor do PEAC, da Associação de Marisqueiras de Pirambu e esteve articulada em movimento pesqueiro, acredita que “mulheres muito unidas jamais serão vencidas”. Ela espera conseguir defender os direitos das marisqueiras. “Direitos que muitas vezes nem sabemos que temos”, explica.

 

Além das duas referidas comunidades, serão realizadas eleições em outras doze abrangidas pelo PEAC: Rita Cacete e Apicum (São Cristóvão); Mosqueiro, Areia Branca e Bairro Industrial (Aracaju); Pontal e Terra Caída (Indiaroba); Praia do Saco, Tibúrcio, Muculanduba e Porto do Mato (Estância); e Pedra Furada e Rua da Palha (Santa Luzia do Itanhi).

Programa Peac

O Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) incentiva o fortalecimento dos Territórios de vida dos Povos e Comunidades Tradicionais. A realização do PEAC é uma exigência do licenciamento ambiental federal, conduzido pelo Ibama.